Pessach e Páscoa – qual a diferença?

Pessach (a Páscoa judaica) é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel, a partir da qual ocorrem as outras festas na Bíblia. A palavra Pessach significa “passagem” e representa a travessia pelo Mar Vermelho, quando o povo liderado por Moisés passou da escravidão no Egito para a liberdade na Terra Prometida, há mais de 3.000 anos.
A Páscoa judaica dura 7 dias (em alguns lugares, 8 dias). Algumas famílias, nesse período, limpam meticulosamente a casa, removendo todas as migalhas e lembrando os judeus que deixaram o Egito às pressas.
A forma como, desde o século VI a.C., os judeus celebram a Festa de Páscoa é praticamente a mesma até hoje. Segundo a tradição, o Pessach deveria ser celebrado com um jantar familiar, em que cada prato tem um valor simbólico muito forte e preciso. Um cordeiro seria assado e comido por todos. O jantar também deveria ter o pão ázimo, ou sem fermento (matzá, em hebraico) e ervas amargas, como a raiz forte e o rabanete. O pão sem fermento serve para lembrar que, no êxodo do Egito, os judeus comeram às pressas o pão que não teve tempo de fermentar. As ervas amargas são para lembrar como a vida era amarga quando os judeus eram escravos de Faraó. Por volta do ano 550 a.C., os judeus criaram uma sequência para o jantar (chamada de Hagadá), que incluía o relato do Êxodo, os 4 cálices de vinho e o Charosset (pasta doce).  A intenção do mandamento é que todos os membros da família participem das narrativas e da liturgia, e que a festa seja uma maneira de ensinar as crianças sobre a saga de seus ancestrais.
A Santa Ceia, segundo historiadores, seria um Seder (jantar de Pessach). Jesus, que era hebreu e chamado de Yeshua, quando celebrou seu último jantar de Páscoa com os discípulos, seguiu exatamente a tradição judaica e utilizou quase todos os elementos e a sequência que temos ainda hoje nos lares judaicos. Não apenas isso, mas utilizou parte da tradição criada no séc VI a.C., para institucionalizar a Santa Ceia (um Kidush com simbolismo mais rico).

Já o simbolismo da Páscoa cristã é parte da mensagem no Novo Testamento, baseada no evento da Páscoa Judaica.
No início da formação da cristandade, alguns grupos da Igreja Primitiva davam continuidade ao ritual judaico (incluindo o sacrifício do cordeiro), enquanto outros rejeitavam essa prática, pois interpretavam que Cristo era o símbolo do último cordeiro (o cordeiro e filho de Deus), que foi enviado como vítima para a remissão dos pecados e salvação dos homens. Os rituais católicos relacionados com a Páscoa passaram a ser organizados, então, com base em autossacrifício, como o jejum e as penitências da Quaresma.
“Para os cristãos, ela tem um sentido mais metafísico. Representa a passagem de Cristo pela morte”, afirma o teólogo Fernando Altmeyer Júnior, da PUC de São Paulo, referindo-se à tradição de que Jesus teria ressuscitado no terceiro dia após sua crucificação. Assim, a comemoração representa a ressurreição de Jesus Cristo, que foi crucificado na sexta- feira e ressuscitou no domingo.

A partir do Concílio de Niceia*, realizado no século IV d.C. pelaIgreja Católica, a Páscoa passou a ser celebrada no equinócio da Primavera (no hemisfério norte), podendo ser então comemorada entre os dias 22 de março e 25 de abril. Essa tradição permanece até hoje e o dia da Páscoa varia em função dela. Os dias do Carnaval e do período da Quaresma também existem em função do dia da Páscoa.  É comum que toda a família se reúna em um grande almoço, já que todos teriam saído de restrições alimentares e penitências por toda a Quaresma – quarenta dias, a partir da Quarta-feira de Cinzas. Hoje em dia, na verdade, isso existe mais como tradição, já que poucos seguem o período de restrição.

Assim, apesar de receberem o mesmo nome, as celebrações judaica e cristã têm significados distintos e não ocorrem necessariamente em datas coincidentes, embora isso possa ocorrer. Em 2015, o período de Pessach será do dia 4 ao dia 10 de abril, e a Páscoa cristã será no dia 5 de abril.

SOBRE COELHINHOS E OVOS DE CHOCOLATE
Esse processo de instituição de comemoração da Páscoa também assimilou vários mitos do norte da Europa, como o mito da deusa germânica Ostara, com o qual estão relacionados os símbolos dos ovos e do coelho,  no Brasil e grande parte do mundo ocidental, e em função do qual  se perpetua a tradição de presentear com ovos e coelhos (principalmente de chocolate). O coelho da Páscoa tornou-se um forte símbolo da Páscoa cristã e, embora não coloque ovos, pois é um mamífero, é acompanhado por ovos de chocolate.
O coelho, aliás, é reconhecido como um agente de renovação por várias culturas: na tradição japonesa, por exemplo, está associado ao Ano Novo; na Grécia, era associado à deusa Afrodite e presentear com um coelho era sinal de amor, no séc. VI a.c.**. Essas associações referem-se claramente à fertilidade, pois os coelhos reproduzem com muita velocidade.
O ovo, símbolo antigo de “vida nova” sempre foi associado a festas pagãs de celebração da primavera.Do ponto de vista cristão, representa a ressurreição. A decoração de ovos de galinha, com tintas coloridas e desenhos delicados, aparece já no séc. 13, e uma das explicações para a tradição é a de que era proibido comer ovos na Quaresma, portanto as pessoas os pintavam e decoravam, nos dias de penitência e jejum, para comê-los na celebração da Páscoa.
Na Rússia, ovos de joalheria passaram a ser produzidos por Peter Carl Fabergé, a partir de uma encomenda, em 1885, pelo czar Alexandre III, como um presente de Páscoa para sua esposa Maria Feodorovna. Por fora, parecia um simples ovo de ouro esmaltado, mas ao abri-lo, havia uma gema de ouro contendo uma galinha, que por sua vez continha um pingente de rubi e uma réplica em diamante da coroa imperial. Esses ovos são verdadeiras relíquias e foram produzidos até 1917, para os czares da Rússia.
Já os atuais ovos de chocolate, mais populares, são resultado do desenvolvimento da culinária e, antes disso, da descoberta do continente americano, já que, ao entrarem em contato com os maias e astecas, os espanhóis foram responsáveis pela divulgação do chocolate no Velho Mundo. Somente duzentos anos mais tarde, os franceses tiveram a ideia de fabricar os primeiros ovos de chocolate da História, que permanecem até hoje como o principal símbolo da Páscoa.

referências:
http://super.abril.com.br/religiao/qual-relacao-pascoa-judaica-crista-444446.shtml
http://www.bbc.co.uk/print/schools/religion/judaism/passover.shtml

http://www.history.com/topics/holidays/easter-symbols
http://german.about.com/gi/o.htm?zi=1/XJ&zTi=1&sdn=german&cdn=education&tm=21&f=10&su=p284.13.342.ip_&tt=2&bt=0&bts=0&zu=http%3A//www.osterhasenmuseum.de/
http://german.about.com/od/holidaysfolkcustoms/a/German-Easter-Traditions.htm
http://www.bbc.co.uk/print/schools/religion/christianity/easter.shtml
http://www.brasilescola.com/pascoa/a-origem-ovo-pascoa.htm

*O Primeiro Concílio de Niceia foi um conselho de bispos cristãos reunidos na cidade de Niceia da Bitínia (atual İznik, Turquia), pelo imperador romano Constantino I, em 325 d.C.. Foi a primeira tentativa de obter um consenso na igreja, através de uma assembleia representando toda a cristandade. Entre outros assuntos, se fixou ali a data da Páscoa.

** O Livro dos Símbolos – Reflexões sobre imagens arquetípicas, Editora Taschen GmbH, Colônia, Alemanha, 2010