Braile é um processo de escrita utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. O sistema é baseado em 64 símbolos em relevo, resultantes da combinação de até seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos cada. Os símbolos podem representar tanto letras, como algarismos e sinais de pontuação, e a leitura é feita da esquerda para a direita, com uma ou duas mãos ao mesmo tempo.
O nome braile deve-se ao autor do sistema, o francês Louis Braille (1809 – 1852), que perdeu a visão aos 3 anos, ao ter o olho perfurado por uma ferramenta na oficina do pai.
Ainda jovem estudante, ele conheceu a Sonografia, um código militar desenvolvido por Charles Barbier, oficial do exército francês, que consistia em um sistema de comunicação noturna entre oficiais nas campanhas de guerra. O invento não surtiu efeito para o que se propunha, de modo que Barbier tentou implementá-lo para as pessoas cegas do Instituto Real dos Jovens Cegos.
A partir da invenção do sistema, em 1825, Braille desenvolveu estudos que resultaram, em 1837, na proposta da estrutura básica do sistema, ainda hoje utilizada mundialmente. Houve algumas resistências, sugestões de aperfeiçoamento ou desenvolvimento de outros sistemas de leitura e escrita pra cegos, mas seu sistema, pela eficiência e vasta aplicabilidade, impôs-se definitivamente como meio de leitura e de escrita.
Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris, com a participação de onze países europeus e dos Estados Unidos, estabeleceu que o sistema braile deveria ser adotado de forma padronizada, para uso na literatura, exatamente de acordo com a estrutura apresentada por Louis Braille, em 1837, bem como com os símbolos fundamentais para as notações musicais e matemáticas (símbolos fundamentais para os algarismos, bem como as convenções para a Aritmética e Geometria).
DIVERGÊNCIAS
Nem sempre, porém, essa simbologia fundamental foi adotada nos países que vieram a utilizá-lo. Há diferenças regionais e locais, de modo que ainda hoje prevalecem diversos códigos para a Matemática e as Ciências, em todo o mundo. Com apoio da UNESCO, o Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, criado em 1952 (hoje União Mundial dos Cegos), passou a tratar dessa divergência até que, na década de 1970, a Organização Nacional de Cegos da Espanha (ONCE) desenvolveu estudos para propor um código unificado, que denominou “Notación Universal”.
Em termos mundiais, a unificação dos códigos matemáticos e científicos ainda não alcançou êxito mas a unificação da simbologia matemática para os países de língua castelhana foi acordada em 1987, na cidade de Montevidéu, durante uma reunião de representantes de imprensas braile desses países.
O BRAILE NO BRASIL
O Brasil conhece o sistema desde 1854, data da inauguração do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, chamado, à época, Imperial Instituto dos Meninos Cegos. Fundado por D. Pedro II, o Instituto já tinha como missão a educação e profissionalização de pessoas com deficiência visual. “O Brasil foi o primeiro país da América Latina a adotar o sistema, trazido por José Álvares de Azevedo, jovem cego que teve contato com o braile em Paris”, conta a pedagoga Maria Cristina Nassif, especialista no ensino para deficiente visual da Fundação Dorina Nowill.
Diferentemente de alguns países, o sistema braile teve plena aceitação no Brasil, utilizando-se praticamente toda a simbologia usada na França (com algumas poucas adaptações, para atender a reformas ortográficas e também com a adoção da tabela Taylor de sinais matemáticos). O Brasil também passou a adotar, na íntegra, o código internacional de musicografia braile de 1929, e o Código Matemático Unificado para a Língua Castelhana, com as necessárias adaptações à realidade brasileira, em 1994.
A atuação profissional de pessoas cegas no campo da Informática, a partir da década de 70, fez com que surgissem outras formas de representação em braile até que, em 1994, foi adotada uma tabela unificada para a Informática.
O braile hoje já está difundido pelo mundo todo e, segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2008, Instituto Pró-Livro), 400 mil pessoas leem braile no Brasil. Não é possível, segundo o Instituto Dorina Nowill, calcular em porcentagem o que esses leitores representam em relação à quantidade total de deficientes visuais no país. Isso porque o censo do ano 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que há aqui 169 mil pessoas cegas e 2,5 milhões de pessoas com baixa visão. No entanto, este último grupo é muito heterogêneo – há aqueles que enxergam apenas 1% e, portanto, poderiam ler apenas em braille, e também pessoas que enxergam 30% e podem também utilizar livros com letras maiores.
A falta de informação é ainda o principal problema que se percebe em relação ao braile. “Muitos professores acham que é simples ensinar a linguagem a um aluno cego, no entanto a alfabetização com esse sistema tem suas especificidades, e o professor, para realizar tal tarefa com êxito, tem de buscar ajuda”, explica a especialista Maria Cristina.
Hoje institutos como o Benjamin Constant, o Dorina Nowill, Lara Mara e muitos outros pelo país oferecem programas de capacitação em braile e dispõem de vasto material sobre o assunto.
Como ação afirmativa para a inclusão dos deficientes visuais na sociedade, a Universidade de São Paulo desenvolveu o Braille Virtual, com o qual pessoas que veem poderão rapidamente aprender o sistema e estabelecer uma comunicação completa com os deficientes visuais. Veja o método
http://www.braillevirtual.fe.usp.br/pt/
Referências
http://www.afb.org/info/living-with-vision-loss/braille/what-is-braille/123
http://laramara.org.br
http://www.fundacaodorina.org.br/deficiencia-visual/
http://novaescola.org.br/conteudo/270/deficiencia-visual-inclusao
http://novaescola.org.br/conteudo/397/como-funciona-sistema-braille
http://www.ibc.gov.br/?itemid=10235