A língua é um fator importante para a cultura e a história de um povo, constituindo sua identidade e sendo o meio básico de organização da experiência, do conhecimento e da preservação da memória desse povo.
Reconhecendo-se essa importância e na intenção de preservar e divulgar línguas ameaçadas de desaparecer, em 7 de março de 2013, por iniciativa de professores da Universidade de Brasília (UnB), foi criado o primeiro instituto de línguas indígenas do Brasil, chamado de Aryon Dall’Igna Rodrigues, em homenagem ao linguista paranaense e professor da UnB, falecido em 2014. Na abertura do instituto, Mauro, da etnia guarani, apresentou sua tese de mestrado, um estudo da própria língua (veja vídeo).
Segundo a professora Dra. Rosângela Corrêa, da Faculdade de Educação da UnB, o censo do IBGE realizado em 2010, apontou que a população brasileira soma 190.755.799 milhões de pessoas, sendo que 817.963 mil são indígenas, de 305 diferentes etnias. Foram registradas no país, pelo mesmo censo, 274 línguas indígenas, sendo que estima-se que, na época do descobrimento do Brasil, havia 1.300 línguas indígenas diferentes. Portanto, cerca de mil delas se perderam por diversos motivos, entre os quais a morte de tribos inteiras, em decorrência de epidemias, extermínio, escravização, falta de condições para sobrevivência e aculturação forçada.
O número de línguas indígenas ainda faladas é um pouco menor do que o de etnias, porque mais de vinte desses povos agora falam só o português, alguns passaram a falar a língua de um povo indígena vizinho e dois, no Amapá, falam o crioulo francês da Guiana. A distribuição é desigual, algumas dessas línguas são faladas por cerca de 20 mil pessoas e outras o são por menos de 20.
O tupi foi a única língua estudada nos primeiros trezentos anos de colonização. O objetivo básico dos missionários era aprendê-la e estudá-la para se comunicar com os índios e promover a catequese religiosa. O Padre José de Anchieta publicou, em 1595, uma gramática tupi. Há também estudos sobre a língua elaborados por viajantes estrangeiros, destacando-se entre eles o francês Jean de Léry.
Assim como as demais línguas do mundo, por apresentarem semelhanças nas suas origens tornam-se parte de grupos linguísticos que são as famílias língüísticas, e estas por sua vez fazem parte de grupos ainda maiores, classificadas como troncos lingüísticos. Os troncos com maior número de línguas são o macro-tupi e o macro-jê.
Há, também, línguas que não puderam ser incluídas pelos linguistas em nenhuma das famílias conhecidas, permanecendo não-classificadas ou isoladas, como as faladas pelos índios tikúna, trumái e irântxe/munku, trumái, máku, aikaná, Arikapú, jabutí, kanoê e koaiá ou kwazá.
Algumas línguas indígenas se subdividem em vários dialetos, como por exemplo, os falados pelos krikatí, ramkokamekrá, pükobyê, apaniekrá (Maranhão), apinayé, krahó e gavião (Pará), todos pertencentes à língua timbira.
Constituiu-se, ainda, em quase toda a Colônia, o Nheengatu (uma espécie de derivação do Tupi, também conhecida como Língua Geral ou Língua Geral do Sul), de uso massivo por indígenas e europeus ( em fins do século XVIII, seu uso foi proibido em todo o território, por ordem do primeiro-ministro português Marquês de Pombal. Obrigou-se aí ao uso exclusivo do Português).
Houve, a partir da década de 1980, um grande desenvolvimento no estudo da linguística indígena, com um maior engajamento de estudiosos do assunto, a formação de especialistas, esses últimos também envolvidos com programas para formar professores indígenas.
A iniciativa de criação do instituto Aryon Dall’Igna Rodrigues representa uma etapa importante de afirmação de identidade para vários povos.
Referências
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/brasil-ja-teve-mais-mil-linguas-434589.shtml
https://educezimbra.wordpress.com/2016/04/09/unb-cria-o-primeiro-instituto-de-linguas-indigenas-do-brasil/
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=832:linguas-indigenas-no-brasil&catid=47:letra-l