Cadê o rio que estava aqui???

Sob o solo da cidade de São Paulo existe uma imensa malha hidrográfica, constituída de mais de 3.500 metros de cursos d’água canalizados.
E essa canalização dos rios e córregos é um dos problemas mais graves na capital paulista, e por isso hoje tão criticado pelos especialistas. Esse modelo de urbanização, que canaliza e cobre as fontes naturais e os cursos d’água, foi também seguido por muitas outras cidades do interior do Estado de SP e do restante do país.

Nossos rios são lembrados quando a temporada de chuvas faz com que as galerias subterrâneas transbordem, com alagamentos e graves transtornos para a população.
Pela visão deturpada, que os considerava como um obstáculo ao desenvolvimento urbano, quase todos os rios, incluindo os de água limpíssimas, foram canalizados. Além disso, grande parte do solo urbano está impermeabilizado pelos calçamentos e construções, e basta uma forte chuva para que centenas de córregos e riachos voltem à superfície.

Os rios também carregam nossa história e nos fazem entender o passado. Como serviam como via de transporte e fonte de água, grande parte das cidades se desenvolveu ao longo deles – como podemos observar em monumentos históricos como a Casa do Bandeirante, em São Paulo, por exemplo, que foi pouso de desbravadores das terras paulistas e situa-se próximo às águas do rio Pinheiros.
No entanto, apesar de serem um componente importante na história das cidades eles, em geral, não são valorizados pela população e não fazem parte do seu cotidiano

Mas é preciso dizer também que, com a crise hídrica assolando nossa cidade, diversas iniciativas de valorização e recuperação de nossas fontes e rios têm aparecido. Há movimentos como o Parque da Fonte e o YButantã, no bairro do Butantã, que cobram da iniciativa pública a recuperação e apropriação pública das águas e dos espaços de preservação.

Quando são implantados parques e é recuperada a mata ciliar, ao longo das áreas de proteção dos rios, há uma diminuição dos episódios de enchentes e inundações durante as fortes chuvas de verão, contribuindo para a drenagem urbana. Os parques também evitam que essas áreas sejam invadidas ou degradadas.
“O mais surpreendente é que, em vários casos, sobre os rios canalizados foram construídos parques públicos. Em vez de correrem pelos parques, tornando-se fatores de desfrute para a população, os rios foram escondidos no subterrâneo”, comenta Norma Regina Truppel Constantino, professora no curso de Arquitetura e Urbanismo da Unesp

Dentre as iniciativas atuais, o projeto Rios e Ruas, desenvolvido pelo urbanista José Bueno juntamente com o geógrafo Luiz de Campos Jr e a bióloga Juliana Gatti, propõe-se a revelar uma realidade profunda, possibilitando uma mudança no olhar dos paulistanos para suas águas e árvores.
Despertar a consciência dos paulistanos para uma nova convivência com os elementos vivos da natureza urbana de São Paulo é aprofundar a reflexão sobre o uso do espaço público, sobre o desenvolvimento da cidade onde vivemos e sobre o futuro que deixaremos como legado para nossos filhos e netos.

Para que os rios passem a ser valorizados pelas populações, é necessário um trabalho de conscientização e elaboração de projetos participativos que qualifiquem os lugares, mais do que a simples aprovação de leis e regulamentos.

“É importante a visualização dos rios, porque, se as pessoas os veem, elas passam a valorizá-los e a se mobilizar por sua integridade”, enfatiza Constantino.

referências

http://rioseruas.com
http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/parceiros-do-planeta/charles-groisman-e-a-reconexao-do-homem-com-a-natureza/
http://educacao.estadao.com.br/blogs/colegio-itaca/porque-e-o-rio-que-corre-pela-minha-aldeia/