O açaí na tigela tornou-se famoso nos últimos anos e é largamente consumido nas cidades brasileiras, misturado com guaraná e açúcar e servido como um creme gelado ou em forma de sorvete. Poucos sabem, porém, que ele é alimento de populações indígenas e de várias regiões do Norte do Brasil, há centenas de anos: preparado tradicionalmente com farinha de mandioca ou tapioca, é servido também em forma de pirão, para acompanhar peixe assado ou camarão.
Assim como o açaí foi “descoberto” há pouco, o Brasil tem uma infinidade de outras frutas ótimas para consume mas pouco conhecidas pela maioria das pessoas.
Segundo Guilherme Domenichelli, em matéria publicada na Carta Capital (link no final desse texto):
“O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas no mundo, atrás apenas da China e da Índia. Sua enorme extensão de terras férteis, o clima e a disponibilidade de água favorecem a produção de uvas, melões, mangas, maçãs e bananas. Uma boa parte é consumida internamente e outra, exportada em forma processada ou na de frutas frescas. Mas, por incrível que pareça, a grande maioria das frutas consumidas por nós consiste de itens exóticos, ou seja, que não têm origem nos biomas brasileiros. Para se ter ideia, das 20 frutas mais consumidas aqui, só três são nativas.
E estima-se que existam pelo menos 312 frutas tipicamente brasileiras, sem contar que muitas tidas como “a cara do Brasil” (como banana, laranja, manga, graviola, pinha, tamarindo, romã, acerola, jaca, jambo) não são naturais de terras brasileiras. O caso do coco, por exemplo, é muito curioso: “Para alguns pesquisadores, ele é considerado uma fruta exótica da Ásia, enquanto para outros, é uma árvore nativa da América do Sul, provavelmente no litoral Norte e Nordeste do Brasil”, esclarece a professora Flávia Cartaxo, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano
Mas, apesar do número impressionante de nativas, apenas seis frutas brasileiras são cultivadas comercialmente em grande escala”, diz o engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, coautor do livro Frutas Brasileiras Exóticas e Cultivadas.
“Dificilmente você iria à feira livre comprar picinguaba, mangaba, camu-camu, ajuru, fruta-do-lobo, murici, umbu, jatobá ou sapota-do-solimões. Ainda que quisesse, não encontraria. Pois esses nomes “estranhos”, de que você provavelmente nunca tinha ouvido falar, são de frutas nativas, ou seja, tipicamente brasileiras. Muitas delas eram comuns no passado e hoje são raríssimas, como o oiti-da-baía, que alguns historiadores relatam ter sido uma das frutas preferidas do imperador Pedro II”, afirma Domenichelli.
As espécies nativas destacam-se, aí sim, como matérias-primas para a agroindústria – suco, geleias, licores, polpa, bolachas, compotas, sorvete -, indústria farmacêutica e indústria de cosmético. E muitas delas são importantes fontes de alimento para as populações de baixa renda em várias partes do país.
Saúde à mesa
O que não se discute, no entanto, é o bem que as frutas – nativas ou não – fazem ao nosso corpo, como fontes riquíssimas de vitaminas.
Alimentos essenciais para o organism, devem fazer parte do cardápio de todos. Ricas em fibras, que ajudam no bom funcionamento do intestino, não têm altas taxas de gordura, sódio e calorias e são ricas em nutrientes controladores da pressão arterial. Elas também possuem antioxidantes que ajudam a prevenir o aparecimento de câncer e a retardar o envelhecimento.
As frutas que são comercializadas e consumidas hoje são resultado de pesquisas focadas em selecionar e melhorar sabores, tamanhos e tempo de duração. Melancias, abacates e mangas, entre outras, têm hoje aspectos e características bem diferentes de seus originais. As frutas nativas também poderiam passar por esses estudos – aliás, isso já aconteceu com a goiaba, aprimorada há décadas por agricultores japoneses radicados no Brasil.
Mas, quando não existe demanda em alta escala, caso das nativas brasileiras, a produção não compensa e as pesquisas não acontecem. Tornar nossas frutas comerciáveis é algo que requer tempo e investimento, mas valorizá-las proporcionará, além de tudo, a preservação dos biomas brasileiros e de suas riquezas e culturas regionais. Hoje, muitas já são usadas como verdadeiros tesouros culinários regionais no preparo de licores, doces, geleias, mingaus, bolos, sucos, sorvetes e aperitivos. Além das diversas formas de alimentos, os frutos dessas plantas podem proporcionar outros benefícios como remédios, cosméticos, fibras naturais e até artesanatos.
Com pesquisas, incentivos e investimentos, as frutas nativas poderão se tornar nova fonte de renda para populações rurais, para que, além do consumo regional, as riquezas possam chegar à mesa de todos. Quem sabe, no futuro, ao invés de uma maçã, um aluno possa presentear sua professora com um cubiu, uma grumixama ou uma mangaba?
As 20 frutas mais consumidas no Brasil e suas origens
1. Abacate – América Central
2. Abacaxi – Brasil
3. Banana – Sudeste Asiático
4. Caqui – Ásia
5. Coco-da-baía – origem polêmica
6. Figo – Ásia
7. Goiaba – Brasil
8. Laranja – Ásia
9. Limão – Sudeste Asiático
10. Mamão – América Tropical
11. Manga – Ásia
12. Maracujá – Brasil
13. Marmelo – Europa e Ásia
14. Maçã – Ásia
15. Melancia – África
16. Melão – Europa, Ásia e África
17. Pera – Europa
18. Pêssego – Ásia
19. Tangerina – Ásia
20. Uva – Ásia, América do Norte e Europa
Referências:
http://www.cartanaescola.com.br/mobile/single/221
http://www.ibraf.org.br/news/news_item.asp?NewsID=5544
http://www.brasilescola.com/frutas/
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/que-frutas-sao-originais-do-brasil