É corrente afirmar-se que, antes da chamada Modernidade, não há registro de mulheres na construção do pensamento erudito. Mas isso é uma inverdade, já verificaremos sua atuação na Medicina, na História, na Poesia, enfim, em diversas áreas do conhecimento.
Desde o século V, início da Idade Média, até praticamente o século XIX, as mulheres foram sistematicamente excluídas do mundo do conhecimento e da produção científica ocidental. Mas nem sempre foi assim: nas civilizações antigas, tinham uma participação intelectual maior; na Grécia antiga, a Filosofia Natural era aberta às mulheres; nos séculos I e II, eram ativas cientificamente – notadamente na protociência da alquimia. Porém, com a ascensão do Cristianismo e a queda do Império Romano, a vida das mulheres cientistas tornou-se muito difícil, como foi o caso de Hipátia de Alexandria (370-415) – considerada a primeira matemática da história, inventora do hidrômetro e do astrolábio -, assassinada por cristãos fanáticos, em 415 d.C.
Na Idade Média (sec. V-XV), apenas às freiras, nos conventos, era permitido o estudo e as mulheres eram excluídas da vida acadêmica, com raríssimas exceções, a exemplo da Universidade italiana de Bolonha, que permitiu que assistissem a palestras desde seu início, em 1088, ou a Universidade de Salerno, na qual Trotula di Ruggiero (1050-1097), médica de Ginecologia e Obstetrícia, estudou.
Alguns grandes nomes da intelectualidade feminina medieval – como a freira Hildegard de Bingen (1098 – 1179), que antecipou ideias gravitacionais séculos antes de Newton, e Hroswitha de Gandershein (935 – 1000), que encorajava as mulheres a serem intelectuais – provocaram reações, e o fechamento das portas de ordens religiosas para as mulheres, excluindo-as da oportunidade de aprender a ler e escrever.
No século XVIII, apesar da resistência de intelectuais centrais da época, como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) – para quem o papel das mulheres se restringia à maternidade e a servir seus parceiros – o Iluminismo abriu espaço para as mulheres nas ciências, pela ascensão da cultura de salões, na Europa: espaços que reuniam homens e mulheres em ambientes aconchegantes para discussões filosóficas sobre política, sociedade e ciência. Já que às mulheres era reservado o espaço privado, doméstico, foi a partir da cultura de salões que puderam participar mais ativamente da produção intelectual e científica e que seus trabalhos em Matemática, Física, Botânica e Filosofia começaram a ter influência e reconhecimento oficial no mundo científico.
Mas, apesar de ganharem algum espaço, principalmente a partir do sec. XVIII, é muito comum ver as figuras das “esposas científicas”, mulheres que faziam ciência à sombra de seus maridos cientistas, como foi o caso de “Madame Lavoisier” (1758- 1836), mesmo nos séculos posteriores.
Recentemente, a Editora Fi lançou o livro “Mulheres intelectuais na idade média: entre a medicina, a história, a poesia, a dramaturgia, a filosofia, a teologia e a mística”, disponibilizado para download gratuito em seu site oficial. A obra, dos historiadores Marcos Roberto Nunes Costa e Rafael Ferreira Costa, traz a biografia de dezenas de mulheres que se destacaram nas letras durante o medievo. Acesse aqui.
E para saber mais a respeito das mulheres na ciência, veja artigo da Revista Carta Capital, de 28/02/2019. Acesse por este link.
Mais referências:
https://www.todamateria.com.br/mulheres-que-fizeram-a-historia-do-brasil/
http://setor3.com.br/publicacao-gratuita-com-reflexoes-sobre-a-escrevivencia-de-conceicao-evaristo/