Imagens extraídas do Livro Pequeno Dicionário de Expressões Idiomáticas de Marcelo Zocchio e Everton Ballardin
A vaca foi pro brejo???
Há muitas expressões cujo sentido não é ‘literal’. Os provérbios e os idiomatismos são os casos mais óbvios. ‘A vaca foi pro brejo’ não se aplica nem a vacas nem a brejos, e vale para numerosos eventos: o time perde, o político é cassado, o carro pifa, o aluno é reprovado, o professor se engana etc.
‘Filho de peixe peixinho é’ pode não ter nada a ver com peixes.
‘Matar a cobra e mostrar o pau’ significa ‘fazer algo e dar provas de que fez’, ‘defender uma posição e explicitar o argumento’, ‘alegar alguma tese e provar que é verdadeira’ etc. Mas já se disse que o ‘verdadeiro’ provérbio deveria ser ‘matar a cobra e mostrar a cobra’ (esta, sim, seria uma prova de que a cobra foi morta!), enquanto que ‘matar a cobra e mostrar o pau’ seria comportamento de gente falsa.
O linguista Sírio Possenti, da Universidade Estadual de Campinas, diz que por trás da proposta de corrigir ditados está uma crença errada de que as palavras deveriam ter sempre sentido literal e referir-se ao mundo ‘real’.
Segundo ele, os sentidos das palavras e das expressões são os que elas vão adquirindo ao longo do tempo.
Muitas vezes, não há meio de saber como os sentidos surgiram, e muito menos como surgiram algumas expressões ou provérbios com seus diversos sentidos ou com suas diversas aplicações a contextos análogos.
Mas o melhor argumento contra a suposta necessidade de uma interpretação única e que seria ‘literal’ é dar-se conta de que dizemos ‘Ele vai de Piracicaba a S. Paulo’, ‘A Bandeirantes vai de Piracicaba a S. Paulo’ e também ‘O mandato vai de 2011 a 2014’.
Logo vai aparecer alguém que sustentará que devemos corrigir as duas últimas expressões, alegando que uma rodovia não vai. Menos ainda um mandato!
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