Quando você tem um tema, o mundo é o tema.
Lia Vainer
No Ítaca, nos terceiros anos do Ensino Fundamental 1 (crianças de 8/9 anos), o tema em curso é a preservação da vida, do meio ambiente e, naturalmente, dos animais em extinção e a continuidade da vida.
O mundo, lugar de muitos conhecimentos em que a criança a partir dos 7 anos passa a operar, é campo de planejamento dos professores. Informações e acontecimentos no tempo e no espaço disparam conhecimentos significativos, que os professores conectam com o repertório dos seus alunos, com o entorno e com a história que não cessa. Dessa forma, escritores, pesquisadores, fotógrafos, jornalistas, artistas plásticos, músicos, cineastas, ao narrarem criativamente o mundo em suas diversas facetas, fornecem conteúdos que contribuem para o enriquecimento das propostas didáticas planejadas.
Quando o assunto é preservação ambiental, uma rede de informações, acontecimentos e experiências interligam as crianças às suas próprias vivências, que se prolongam em interesses.
Este percurso contou com o livro “MATO? ”
Mas iniciou-se pela proposta de conhecer tanto as diferenças como as conexões entre a zona rural e a urbana. As pesquisas relativas às produções agrícolas, comércio, o cotidiano dessas duas áreas foi assunto de trocas entre as crianças.
A voz do poeta Carlos Drummond de Andrade, na ocasião do seu aniversário de 100 anos, apresentou-se por meio do poema ‘’Infância’’, do cotidiano rural na sua cidade natal, Itabira/MG: Os alunos seguiram pelo lombo do cavalo e pelo aroma do café no fogão a lenha.
De lá, partiram para a biografia do poeta e a sua morada, na idade adulta, na cidade do Rio de Janeiro. Eis que Itabira, na infância, e Rio de Janeiro, em sua idade adulta, ofereceram o contraponto entre área rural e urbana da época . E os alunos seguiram, inclusive, fazendo cálculos matemáticos entre as distâncias dessas duas cidades, os melhores trajetos, considerando meios de transportes , estradas de rodagem, nas diferentes épocas que variavam entre 1902 e 1980, fases de vida do poeta.
A fotografia já se inseria, na época, como registro de trajetórias no tempo e no espaço. O fotógrafo Marcello Cavalcanti clicou os mesmos ângulos e fez a montagem com os registros dos locais que Augusto Malta, retratara no Rio de Janeiro, no início do século 20. Os alunos puderam, assim, visitar a cidade grande, zona urbana nos dois tempos: no início do sec. XX quando então nascia Drummond na área rural mineira e no sec. XXI quando então morou na cidade como adulto.
Outro interlocutor trouxe suas impressões de aldeia e de cidade grande: o escritor indígena Daniel Munduruku, no seu livro, “Crônicas de São Paulo, um olhar indígena”.
Pelo olhar indígena também foi reconhecida outra cidade grande, São Paulo, por meio das crônicas desse escritor. Ibirapuera, Tatuapé, Butantan, foram alguns dos textos, narrativas que suscitaram interesses e muitas perguntas.
Como o gênero ‘’entrevista” estava presente nos estudos de Língua Portuguesa, com pesquisas sobre entrevistas publicadas por escritores como Ruth Rocha e pelo próprio Daniel Munduruku. Essa jornada de interlocuções seguiu por outros assuntos, analisando-se tal gênero
O texto“Butantan”, de Daniel Munduruku, trouxe o olhar indígena reconhecendo no Instituto do mesmo nome, sua floresta, suas cobras, suas pesquisas. O momento da pandemia, as vacinas. A curiosidade da criança e do cientista: Rodrigo Franco de Carvalho, biólogo do Instituto Butantan, foi convidado a conversar com os alunos.
As crianças organizaram-se previamente com perguntas, prolongamento dos seus interesses e curiosidades. Coincidentemente, no Dia do Biólogo que Rodrigo esteve nas três salas dos terceiros anos. Isso também impressionou a todos.
O tempo das lives não foi suficiente para as trocas entre o pesquisador e os estudantes. Animais, vacinas, perigos, a instituição, Rodrigo como cientista e suas escolhas pessoais foram assunto de muita conversa, sintetizada aqui pela pergunta de uma criança e a resposta do cientista:
O QUE É PRECISO PARA SER UM CIENTISTA?
– Muita curiosidade.
As perguntas não apresentadas estão sendo organizadas para uma nova rodada, agora por e-mail endereçado ao Rodrigo.
Paisagens nativas, progresso, cidade grande, áreas rurais, olhar indígena, aldeia pequena e aldeia grande, assuntos que trouxeram naturalmente outras perguntas: E a ameaça de extinção? E os animais, a floresta, os rios, a queimada?
Chegamos, assim, à pergunta que não quer calar e que intitula o livro de Rogério Assis e Ciro Girard: MATO?
Assim como as fotos de Cavalcanti e Malta, de um Rio de Janeiro de antes e depois, mostraram alterações históricas e geográficas, este trabalho valioso sobre a Amazônia trouxe a floresta e sua narrativa histórica que coloca a ameaça de extinção e a possibilidade de preservação em pauta.
Chega o livro do Rogério Assis: MATO?
EM PAUTA: A NATUREZA DESAPARECERÁ?
Segue abaixo a proposta feita para os alunos:
Conheça algumas imagens da situação atual da Amazônia brasileira, em paralelo a imagens da situação anterior desse vasto território.
As imagens são do fotógrafo Rogério Assis e a montagem do ‘’antes’ e do ‘’depois’’ foi feita pelo designer Ciro Girard. Juntos publicaram esse trabalho no livro MATO?
Curioso! Um nome de livro com ponto de interrogação. O que será que os autores estão perguntando?
1) Olhe para as imagens e imagine uma resposta para essa interrogação: MATO?
2) Agora leia os comentários abaixo, de Tica Minani, depois de ter olhado as imagens do livro. Tica é coordenadora da campanha do Greenpeace na Amazônia.
‘’É mata, é brisa, é sol, é árvore, é rio, é formiga, inseto, areia, calor, água fresca, folhas, samaúma, açaí, peixe, onça, jacaré, macaco, lua, coruja, sapo, voadeira, nuvem, chuva, rede, revoada de pássaros, mandioca, banana, fogueira, magia, gente, risos…
No mato tem tudo isso. E mais: tem uma riqueza exuberante que sustenta uma teia de vida valiosa e diversa, de muitas formas, muitas cores, capaz de provocar medo, mistério e maravilhamento…
Essa mesma riqueza exuberante, que abunda no mato, nos rios, nas árvores, nos minérios e em tantos outros recursos naturais, é motivo de orgulho para a maioria dos brasileiros, mas também desperta outros sentimentos menos nobres que a magia e o maravilhamento.
Muitos olham para o mato e veem outro tipo de riqueza – uma riqueza que esgota os rios e a terra, que cavouca minérios, que corta as árvores, que expulsa as gentes e silencia os risos…’’
O percurso foi finalizado com a observação de dois alunos, ao integrarem o vasto tema de preservação ambiental ao conteúdo trabalhado em Ciências, “Polinização, uma memorável parceria’’:
– Se a gente desmatar, os bichos não terão mais onde morar, aí entra naquele outro assunto que conversamos sobre polinização, não teremos mais árvores e nem bichos para ajudar a “repor” a natureza.
– O ser humano precisa perceber que ele também é a natureza, se destruir e não cuidar, uma hora não vamos mais existir.
O LIVRO:
Mato?
Autor: Rogério Assis e Ciro Girard
Editora: Olhavê
ISBN: 978-85-93223-06-8
Idioma: Português
Edição: 1ª
Ano de lançamento: 2018
Número de páginas: 116
PDF do livro. Disponível no site do fotógrafo Rogério Assis: https://rogerioassis.46graus.com/livros/mato-1/