O valor do tempo

Sabem a expressão “tempo é dinheiro”? Em um banco de Santa Maria da Feira, em Portugal, ela é bem real.
Os atendentes, voluntários, não lidam com dinheiro, mas com tempo. Em vez de lucros, o Banco do Tempo persegue outro objetivo: a felicidade das pessoas. Os bancos de tempo existem em Portugal há 13 anos, e na pacata Santa Maria da Feira, chegaram há um ano e meio. Quem levou uma unidade para lá foi a economista aposentada Margarida Portela, que destaca:

“Apesar de se chamar Banco de Tempo, a instituição portuguesa não é um banco típico, mas sim uma instituição de cunho social onde as pessoas podem “depositar” o seu tempo, em troca do tempo de outras pessoas.
Cada membro oferece um determinado serviço, como aulas de inglês, de bricolagem, ou até consultas médicas, sendo que todos os serviços têm o mesmo valor, só contando o tempo durante o qual esse serviço é prestado.”

Quando uma pessoa faz um trabalho para outra, pode depositar um “cheque do tempo”, que depois poderá usar para obter um outro dos serviços fornecidos pelos outros membros do banco.

Com 28 agências espalhadas por Portugal, o Banco de Tempo esclarece no seu site qual a sua missão:
“Através das trocas e dos encontros, o Banco de Tempo enriquece o mundo relacional das pessoas que nele participam, joga um papel importante na recuperação, em novos moldes, da solidariedade entre vizinhos e no combate à solidão; favorece a colaboração entre pessoas de diferentes gerações, proveniências e condições sociais. Contribui também para o desenvolvimento e partilha de talentos e facilita o acesso a serviços que dificilmente poderiam ser obtidos, dado o seu valor de mercado. O Banco de Tempo suscita questionamentos e incentiva mudanças no modo como vivemos em sociedade.”

Uma excelente ideia para aproximar as comunidades, ao mesmo tempo que nos ajudamos uns aos outros.
Os Bancos de Tempo são uma alternativa econômica, solidária, que defende uma visão transformadora da sociedade e das relações que existem entre as pessoas. Esta visão considera outras prioridades, aspirando a uma qualidade de vida melhor, questionando os modelos dominantes e experimentando outras vias de construção social e econômica.

As primeiras associações desse tipo nasceram no Reino Unido, nos anos 1980, com o nome de Local Exchange Trading System (LETS). Estas experiências demonstram uma preocupação original em se organizar uma economia “alternativa”.  A ideia foi difundida e apareceu em diversos outros lugares: na França onde assume a denominação SEL – Systèmes d’échange), na Espanha (TROCA), na Holanda, Alemanha e Escandinávia.

Na Italia, algumas associações desse tipo surgiram em 1988, na região de Emilia-Romagna, mas o termo “banco de tempo” foi usado pela primeira vez em Parma, no início dos anos 90. No começo dos anos 2000 houve um grande interesse pelo assunto, que se tornou tema de artigos, entrevistas, teses, publicações.

Em dezembro de 2012, foi lançado o TimeRepublik, um banco de tempo global digital, com o objetivo de eliminar as fronteiras dos bancos de tempo tradicionais e aproximar os jovens desse tipo de atividade, antes mais utilizada por pessoas mais velhas. Em janeiro de 2014, o TimeRepublik superou 10 mil usuários, espalhados por 80 países.

Em todos eles o funcionamento é parecido: um eletricista, por exemplo, se inscreve no Banco do Tempo, oferecendo-se para trocar as lâmpadas de uma casa. Após uma hora de trabalho, ele tem direito a uma hora de um serviço qualquer de que ele precise – por exemplo, aula de informática. O professor de informática, por sua vez, tem direito a uma hora de massagem, e por aí vai.

Há um pouco de tudo nesse projeto: troca de lâmpadas, limpeza, cursos de idiomas, massagens, pessoas dispostas a passar roupa e até a ensinar a andar de bicicleta.

O primeiro banco de tempo exclusivamente brasileiro foi criado no final de 2012 e chama-se Winwe. Está claro de que essa é realmente uma tendência que veio para ficar.

Princípios e objetivos explicitados pela organização portuguesa Banco de Tempo:
Objetivos:
• Apoiar a família e a conciliação entre vida profissional e familiar, através da oferta de soluções práticas de organização da vida cotidiana;
• reforçar as redes sociais de apoio, diminuir a solidão e promover o sentido de comunidade e de vizinhança;
• promover a colaboração entre pessoas de diferentes gerações e origens;
• contribuir para a construção de uma cultura de solidariedade e para o estabelecimento de relações sociais mais humanas e igualitárias;
• valorizar o tempo e o cuidado dos outros;
• estimular os talentos e promover o reconhecimento das capacidades de cada um/a;

Princípios:
• Troca-se tempo por tempo: a unidade de valor e de troca é a hora;
• todas as horas têm o mesmo valor: não há serviços mais valiosos do que outros;
• há obrigatoriedade de intercâmbio: todos os membros têm que dar e receber tempo;
• a troca não é direta: o tempo prestado por um membro é-lhe retribuído por qualquer outro membro;
• a troca assenta na boa vontade e na lógica das relações de “boa vizinhança”: os serviços prestados correspondem a actividades que se realizam com gosto e, para as realizar, não podem exigir-se aos membros certificados ou habilitações profissionais.

As ajudas que se desencadeiam entre os membros do Banco de Tempo correspondem, muitas vezes, a pequenos serviços que tipicamente se trocam dentro das fronteiras familiares e entre amigos e que, em alguns casos, dificilmente se encontram no mercado.

 

Referências:

http://www.winwe.com.br
http://www.bancodetempo.net/pt/
http://www.chiadomagazine.com/2015/06/conheca-o-banco-onde-unica-moeda-aceite.html
http://www.cidac.pt/files/6614/1484/3229/COMRCIO_JUSTO_FAZENDO_A_DIFERENA_ARTIGO.pdf
http://www.banchedeltempo.to.it/cos
http://www.graal.org.pt/projecto.php?id=2
http://www.bancodetempo.net/files/Newsletter_1439400990.pdf
https://timerepublik.com