Texto de Mercedes Ferreira (Direção EM) e Maurício Carvalho (Geografia EM)
publicado no blog do Estadão
Escolher não é fácil. Porque pressupõe perda ou perdas: escolher é ter, mas é também deixar de ter. No caso, então, de uma carreira, uma profissão, um “vou ser, quando crescer” – tudo tão definitivo, tão carregado de valores e de expectativas, especialmente familiares -, multiplicam-se as angústias, o medo da escolha errada. Não é fácil: escolho com o coração ou com a cabeça; faço aquilo de que gosto ou vou ganhar bastante dinheiro (nem sempre esses dois caminhos se cruzam…); mantenho a tradição familiar ou rompo com tudo; esta ou aquela faculdade… Questões e mais questões, em um ano escolar já marcado normalmente pelas não poucas exigências dos exames vestibulares.
Como ajudar, sem ser invasivo, sem ser impositivo? Pra começar, isso não se faz de repente, na hora da inscrição no vestibular apenas (mas também não é algo que deva habitar o universo de crianças desde sempre – a não ser, é claro, nas brincadeiras e sonhos, sem peso). Ouvir é essencial, e ouvir muitas vezes (daí que é preciso tempo…). Também oferecer horizontes e possibilidades, conhecimentos, perspectivas. Auxiliar na formulação de perguntas que o adolescente deve fazer a si mesmo; ajudá-lo a saber de si, suas dores e delícias, seus limites e desejos. Orientar na busca de informações objetivas, como cursos, grades curriculares, ocupações possíveis, mercado de trabalho. Se possível, ajudá-lo no encontro de profissionais da área, para que veja a realidade da profissão e seu dia a dia.
No Ítaca, esse processo se dá no Ensino Médio, embora desde o início do 3º ano é que se acentue tal apoio, traduzido nas várias ações descritas acima, a partir de solicitações dos próprios alunos, mas também, e principalmente, de um contato próximo, de realmente conviver com esse aluno, acompanhando genuinamente seu amadurecimento durante anos. Importar-se com; não apenas oferecer informações. Assim, a escola pode complementar o trabalho das famílias, nessa hora de escolhas e dúvidas e perdas e ganhos.
Assim, uma das etapas desse percurso, aqui no colégio, é o Qual é a sua? Um encontro com as profissões.
O evento ocorre normalmente na última semana de aula, em junho, e a escolha das profissões a cada ano é prerrogativa do 3º EM, mas todas as turmas EM participam: profissionais e professores universitários conversam com os grupos inscritos e a proposta é que contem um pouco de suas trajetórias acadêmica e pessoal, das escolhas, das possibilidades de trabalho e remunerações no mercado, dos descaminhos e dificuldades, dos prazeres e conquistas. Muitas vezes, o profissional convida os alunos interessados a conhecerem seu local de trabalho e um dia de sua rotina, por exemplo.
Longe de ser uma “orientação profissional” a ideia é que as conversas reflitam a diversidade das experiências, destacando os percalços, os desencontros e reencontros que podem surgir em cada projeto de vida.
Entendendo que o momento da opção profissional é recheado de incertezas e pressões, o Qual é a sua? (ao lado de várias conversas individuais entre a Coordenação EM e os alunos) tem a intenção de fornecer o máximo de elementos para que cada aluno consiga escolher seus próprios caminhos, ajustando os ponteiros de seus anseios pessoais com os das possibilidades e necessidades que a sociedade apresenta.