“O que é uma fazenda?” nos perguntava o agricultor Paulo, da estância Demétria, em Botucatu. “Um pedaço de terra?” responderam… e se disséssemos ser “um pedaço da Terra?” Há alguma diferença?
Entender-se como parte da Terra envolve um posicionamento ético que emerge não das especulações lógicas e racionais, mas da percepção do mundo através de um olhar qualitativo, integrador e holístico. Não é tarefa fácil…. Exige paciência, abertura, porosidade, atenção e muita observação para que algo comece a verter do fenômeno que está diante de nós, para que comecemos a “ler o livro aberto da natureza”, como diria Goethe, até que ela a nós se revele, generosamente. Essa metodologia de investigação pode ser controversa, mas não há dúvidas de que seja um caminho bastante fértil para recuperarmos nossa capacidade de construir percepções do mundo (e não só repetir descobertas científicas que tornam o universo um conjunto de objetos a serem utilizados: nós separados do mundo que está a nosso serviço, ou lá, bem longe de minha realidade cotidiana).
Investigar a formação da Terra a partir de nossas observações – percebendo como uma massa rochosa é a cristalização de uma história de bilhões de anos, de movimentos, de feitos e efeitos, e que, ao percebê-lo, somos parte disso – é uma forma de buscarmos outras relações com a natureza, cujo ponto de partida é o próprio processo de percepção. As rochas deixam de ser paredes, calçadas, pias, pisos ou acidentes do relevo no meio das estradas… a fazenda deixa de ser um lugar para se plantar… São todos partes da Terra e nós, nela, ao começarmos a perceber aquilo que está para além do objeto, concreto em nossa frente, tornamo-nos responsáveis por vitalizá-la.
É a partir do olhar que isso começa a acontecer. E não há momento escolar mais propício para isso do que um estudo de campo.
Saída envolvendo as disciplinas de Geografia, Biologia, História da Arte e Língua Portuguesa.
Texto: Professor Arthur Medeiros